O
preconceituoso e a morte.
Indo
para casa depois de um exaustivo dia de trabalho, naqueles dias em
que parece que nada dá certo, vinha pensando na vida, ele devoto,
cristão, que vai na igreja todos os dias, já leu e releu a bíblia
até gastar as páginas, tem um monte delas em casa e as dá de
coração para aqueles irmãos perdidos no caminho até Jesus cristo.
Não
deixa de doar parte de seu salário para as "obras de Jesus Cristo",

apesar de que as vezes ele acha que esse dinheiro poderia ser melhor
empregado.
Dá
bons conselhos a quem precisa de luz e ajuda, pois sabe de cor cada
passagem do livro sagrado.
Mas
uma coisa que o tira do sério e o deixa bravo são as pessoas que
"vão contra" a lei de Jesus Cristo que estão descritas na bíblia.
Ali
está descrito como deve ser a VIDA de um verdadeiro cristão pelo
ponto de vista do personagem dessa história e de como ele deve
seguir, como pode as pessoas não aceitarem isso?
Coisa
do diabo, é claro, veio ao pensamento na hora, até porque é o
assunto mais falado de dez entre dez pastores.

Sim,
também os negros, os malditos negros amaldiçoados por Noé, porque trouxeram
daquele lugar quente
( lembra o inferno) uma religião estranha e
divergente do que eu penso, passava tudo isso em sua cabeça, ainda
mais miseráveis dentro das senzalas, mais amaldiçoados por Noé, ai
está a prova, se fossem homens seguidores de Jesus igual a mim, não
estariam assim nada disso teria ocorrido com esses pagãos.

Como
pode também, o ódio já avermelhando o seu rosto, homens amarem
homens e mulheres amarem mulheres, está escrito na bíblia, já faz
uns
2 mil anos mais ou menos isso não é coisa de Deus.
Parado
no cruzamento por causa do sinal vermelho, ele viu ali no cruzeiro um
despacho.
Pensou
na hora, com toda a velocidade que o próprio pensamento tem, coisa
do diabo, coisa do satanás, vela, cachaça, pipoca garanto que é
para fazer maldade para alguém, coisa desses malditos batuqueiros,
escória do povo de Deus.
Eu
quero distância de negros, gays e batuqueiros, todos seguidores de
satanás, pensava ele.

Tão
nervoso que ficara com esses pensamentos que arrancou com o carro,
não percebendo que o sinal vermelho ainda o impedia de arrancar, um
grande caminhão carregado de bíblias que iam para uma loja de
artigos católicos próxima para serem vendidas, lhe pegou na lateral
do carro, ocasionando um acidente de grandes proporções.
A
vítima? Coitada da pobre vítima, a beira da morte fora levado até
o hospital mais próximo, vivo ainda graças ao excelente trabalho do
socorrista, que era exilado político da África, que fez um curso de socorrista, sim,
ele adorava salvar as pessoas, esse era o seu sonho desde criança no
interior da África devastada pela guerra, onde perdeu toda a sua
família por causa de um dos fatores da guerra, uma guerra entre
religiões,
muçulmanos e cristãos, e ele coitado, sem ter parte
nenhuma de nenhum dos lados fora o maior sofredor.
Mas
agora ele estava ali, negro, pobre e exilado mas salvando vidas como socorrista seu maior sonho,
levando aquele coitado cidadão para o hospital.
Chegando
ao hospital, para a sua sorte, um renomado cirurgião mundial, estava
em uma assembléia sobre primeiros atendimentos em hospitais e pronto
socorros, foi o que primeiro lhe atendeu em conjunto com outros
grandes e renomados médicos, doutores e pós graduados do mundo
inteiro.
Um
deles, muçulmano, grande homem, que já fizera amizade na hora por
incrível que pareça com o médico Judeu que tinha se formado na
mesma universidade americana que ele.
O
chefe daquela bendita equipe de médicos que atendiam o já quase pé
na cova paciente daquele trágico acidente, era um homem alto, forte,
sábio, professor de uma das melhores universidades de medicina do
mundo todo, gay assumido a pouco tempo, casado com outro gay, médico
também especialista que por coincidência faria parte daquela
magnífica equipe que tentaria salvar aquele pobre homem.
O
problema era, a quantidade de sangue que o mesmo homem tinha perdido
no acidente.
O
que fariam, já que o estoque de sangue no banco de sangue daquele
hospital estava escasso, sim era um hospital público, se não me
engano, era administrado por espíritas, tanto que em sua frente
estava descrito,
HOSPITAL ESPÍRITA DE PRONTO SOCORRO,
Sangue,
não era problema, naquele hospital além de espíritas existiam
algumas pessoas que costumavam a auxiliar os pacientes ali
“hospedados”, de várias formas, crianças com câncer
tinham
seus próprios palhaços a lhes alegrar o dia cinzento, famílias que
vinham de longe
sem condições tinham hospedagem adjacente ao
hospital, onde cozinheiros,
atendentes, enfim, solidários espiritualistas e umbandistas faziam essas tarefas em prool do bem estar humano, em uma
simbiose sem conotação religiosa e sem precedente, apenas pelo amor
ao próximo, apesar de ser uma das tarefas a ser cumprida, através
de um curso mediúnico ministrado em uma terreira de umbanda na mesma
rua para os médiuns umbandistas,
fazer a caridade não interessando
para quem seja naquele hospital por um tempo determinado.
Como
aquele dia era anterior a um feriadão, tinham mais umbandistas
solidários do que o normal, e o médico plantonista, fez um pedido
insólito ou não aos mesmos.
Precisaria
de um grande número de doadores de sangue para poder salvar uma
pessoa através de uma grande e complicada cirurgia.
Isso
não será problema disse o responsável pelos solidários
espiritualistas
que se encontravam ali, e logo já se conseguira uns
20 doadores de sangue entre os presentes umbandistas, negros, asiáticos, gays, espíritas e várias outras pessoas caridosas.
O
grande círculo de amor, solidariedade e caridade se formou, após
horas e mais horas de cirurgia, muitos litros de sangue, ali
naquele hospital espírita, através do grande serviço médico
prestado pelo doutor gay, claro não esquecendo do negro africano
socorrista que pôs em prática seu grande sonho de salvar vidas,
tudo ocorrera dentro dos conformes.
O
paciente se salvou, e logo sua cura e restabelecimento foram rápidos.

Ao
voltar para casa, antes de chegar a ela, ele foi até a sua igreja
agradecer a Deus pelo mesmo ter lhe salvo a vida, até porque sinal
divino maior que esse não existia.
Ele
sim era um homem iluminado por Jesus, pois sofrera um grande acidente
que quase o levara a morte, um caminhão cheio de Bíblias sagradas
quase lhe matou, mas ele se salvou, e esse fora o grande sinal divino
recebido via profética pelo seu pastor.

Era
para ele divulgar, ensinar, expor, nem que seja a força,
tudo o que
está na Bíblia, distribuir mais e mais bíblias revistas pelo seu
pastor e mostrar sim para o seu povo, que negros africanos foram sim
amaldiçoados por Noé, espiritualistas e umbandistas são enviados
pelo diabo e que homossexuais são pessoas desviadas dos ensinamentos
de Deus e que Deus o salvara da morte porque tinha um motivo que era
a luta contra o preconceito com os evangélicos e seus preceitos.
Texto
sem fim definido ainda, só daqui a milhares de séculos saberemos o
seu fim e se era apenas algo que acontecia no passado bem remoto ou
não.
Por
Emerson C Matos
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