O PRECONCEITUOSO E A MORTE (POR EMERSON C MATOS)

O preconceituoso e a morte.



Indo para casa depois de um exaustivo dia de trabalho, naqueles dias em que parece que nada dá certo, vinha pensando na vida, ele devoto, cristão, que vai na igreja todos os dias, já leu e releu a bíblia até gastar as páginas, tem um monte delas em casa e as dá de coração para aqueles irmãos perdidos no caminho até Jesus cristo.

Não deixa de doar parte de seu salário para as "obras de Jesus Cristo",
 apesar de que as vezes ele acha que esse dinheiro poderia ser melhor empregado.

Dá bons conselhos a quem precisa de luz e ajuda, pois sabe de cor cada passagem do livro sagrado.
Mas uma coisa que o tira do sério e o deixa bravo são as pessoas que "vão contra" a lei de Jesus Cristo que estão descritas na bíblia.

Ali está descrito como deve ser a VIDA de um verdadeiro cristão pelo ponto de vista do personagem dessa história e de como ele deve seguir, como pode as pessoas não aceitarem isso?

Coisa do diabo, é claro, veio ao pensamento na hora, até porque é o assunto mais falado de dez entre dez pastores.
 

Sim, também os negros, os malditos negros amaldiçoados por Noé, porque trouxeram daquele lugar quente 
( lembra o inferno) uma religião estranha e divergente do que eu penso, passava tudo isso em sua cabeça, ainda mais miseráveis dentro das senzalas, mais amaldiçoados por Noé, ai está a prova, se fossem homens seguidores de Jesus igual a mim, não estariam assim nada disso teria ocorrido com esses pagãos.

 

Como pode também, o ódio já avermelhando o seu rosto, homens amarem homens e mulheres amarem mulheres, está escrito na bíblia, já faz uns 
2 mil anos mais ou menos isso não é coisa de Deus.
 

Parado no cruzamento por causa do sinal vermelho, ele viu ali no cruzeiro um despacho.

 

Pensou na hora, com toda a velocidade que o próprio pensamento tem, coisa do diabo, coisa do satanás, vela, cachaça, pipoca garanto que é para fazer maldade para alguém, coisa desses malditos batuqueiros, escória do povo de Deus.

Eu quero distância de negros, gays e batuqueiros, todos seguidores de satanás, pensava ele.
 
Tão nervoso que ficara com esses pensamentos que arrancou com o carro, não percebendo que o sinal vermelho ainda o impedia de arrancar, um grande caminhão carregado de bíblias que iam para uma loja de artigos católicos próxima para serem vendidas, lhe pegou na lateral do carro, ocasionando um acidente de grandes proporções.




A vítima? Coitada da pobre vítima, a beira da morte fora levado até o hospital mais próximo, vivo ainda graças ao excelente trabalho do socorrista, que era exilado político da África, que fez um curso de socorrista, sim, ele adorava salvar as pessoas, esse era o seu sonho desde criança no interior da África devastada pela guerra, onde perdeu toda a sua família por causa de um dos fatores da guerra, uma guerra entre religiões,
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 muçulmanos e cristãos, e ele coitado, sem ter parte nenhuma de nenhum dos lados fora o maior sofredor.


Mas agora ele estava ali, negro, pobre e exilado mas salvando vidas como socorrista seu maior sonho, levando aquele coitado cidadão para o hospital.
Chegando ao hospital, para a sua sorte, um renomado cirurgião mundial, estava em uma assembléia sobre primeiros atendimentos em hospitais e pronto socorros, foi o que primeiro lhe atendeu em conjunto com outros grandes e renomados médicos, doutores e pós graduados do mundo inteiro.

 
Um deles, muçulmano, grande homem, que já fizera amizade na hora por incrível que pareça com o médico Judeu que tinha se formado na mesma universidade americana que ele.
O chefe daquela bendita equipe de médicos que atendiam o já quase pé na cova paciente daquele trágico acidente, era um homem alto, forte, sábio, professor de uma das melhores universidades de medicina do mundo todo, gay assumido a pouco tempo, casado com outro gay, médico também especialista que por coincidência faria parte daquela magnífica equipe que tentaria salvar aquele pobre homem.

O problema era, a quantidade de sangue que o mesmo homem tinha perdido no acidente.

O que fariam, já que o estoque de sangue no banco de sangue daquele hospital estava escasso, sim era um hospital público, se não me engano, era administrado por espíritas, tanto que em sua frente estava descrito,

 HOSPITAL ESPÍRITA DE PRONTO SOCORRO, 



Sangue, não era problema, naquele hospital além de espíritas existiam algumas pessoas que costumavam a auxiliar os pacientes ali “hospedados”, de várias formas, crianças com câncer 
 
tinham seus próprios palhaços a lhes alegrar o dia cinzento, famílias que vinham de longe 
 
sem condições tinham hospedagem adjacente ao hospital, onde cozinheiros, 
 
atendentes, enfim, solidários espiritualistas e umbandistas faziam essas tarefas em prool do bem estar humano, em uma simbiose sem conotação religiosa e sem precedente, apenas pelo amor ao próximo, apesar de ser uma das tarefas a ser cumprida, através de um curso mediúnico ministrado em uma terreira de umbanda na mesma rua para os médiuns umbandistas, 
 
fazer a caridade não interessando para quem seja naquele hospital por um tempo determinado.

Como aquele dia era anterior a um feriadão, tinham mais umbandistas solidários do que o normal, e o médico plantonista, fez um pedido insólito ou não aos mesmos.

Precisaria de um grande número de doadores de sangue para poder salvar uma pessoa através de uma grande e complicada cirurgia.
Isso não será problema disse o responsável pelos solidários espiritualistas 
que se encontravam ali, e logo já se conseguira uns 20 doadores de sangue entre os presentes umbandistas, negros, asiáticos, gays, espíritas e várias outras pessoas caridosas.

  


O grande círculo de amor, solidariedade e caridade se formou, após horas e mais horas de cirurgia, muitos litros de sangue, ali naquele hospital espírita, através do grande serviço médico prestado pelo doutor gay, claro não esquecendo do negro africano socorrista que pôs em prática seu grande sonho de salvar vidas, tudo ocorrera dentro dos conformes.

O paciente se salvou, e logo sua cura e restabelecimento foram rápidos.
 
Ao voltar para casa, antes de chegar a ela, ele foi até a sua igreja agradecer a Deus pelo mesmo ter lhe salvo a vida, até porque sinal divino maior que esse não existia.

Ele sim era um homem iluminado por Jesus, pois sofrera um grande acidente que quase o levara a morte, um caminhão cheio de Bíblias sagradas quase lhe matou, mas ele se salvou, e esse fora o grande sinal divino recebido via profética pelo seu pastor.
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Era para ele divulgar, ensinar, expor, nem que seja a força, 
 
tudo o que está na Bíblia, distribuir mais e mais bíblias revistas pelo seu pastor e mostrar sim para o seu povo, que negros africanos foram sim amaldiçoados por Noé, espiritualistas e umbandistas são enviados pelo diabo e que homossexuais são pessoas desviadas dos ensinamentos de Deus e que Deus o salvara da morte porque tinha um motivo que era a luta contra o preconceito com os evangélicos e seus preceitos.
 

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Texto sem fim definido ainda, só daqui a milhares de séculos saberemos o seu fim e se era apenas algo que acontecia no passado bem remoto ou não.

Por Emerson C Matos

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