O GUERREIRO E A LEBRE (POR EMERSON C MATOS)

O guerreiro e a lebre.

O grande encontro entre o mestre e o discípulo, ocorrera em um local diferente.

Era um misto de cabana simples de um camponês a beira de uma plantação e um lago, parecido também com uma taberna, daquelas de beira de estrada com mesas e cadeiras talhadas de uma árvore inteira, mas com a aura de energia de um grande mosteiro budista, com uma força espiritual sem igual.

 
O guerreiro e suas dúvidas existenciais, encontra o mestre sábio com quase todas respostas para as suas perguntas.
Crianças observavam impacientemente na porta entre aberta, pois nunca viram tão glorioso guerreiro naquele lado do mundo.

 O burburinho lá fora era intenso a ponto de atrapalhar a conversa entre os grandes homens, sendo a mesma bagunça, já dispersa pelo ajudante do mestre, distribuindo doces e comidas para as crianças, mas uma diferente das outras, parecendo uma situação manipulada pelos seres divinos, pediu para que fosse dado por ela, um presente para o guerreiro que ali se encontrava, eram 3 pregos de aço, 
 
esses de construção que encontramos hoje em dia em qualquer loja de materiais para construção.
A conversa entre ambos, discorria como se fosse a própria discussão sobre os rumos da humanidade, sobriedade, respeito, harmonia, experiência, enfim, todos adjetivos que possam expressar algo positivo e construtivo, poderiam ser usados para dizer como era a conversa e o que acontecia ali.
 
Ambos sentados, um de frente para o outro, em alguns momentos a um leigo, ambos iam as vias de fato, mas era apenas um treinamento de combate entre um mestre e um discípulo.
O guerreiro, discípulo daquele grande mestre, servia de cobaia, com todo o gosto, pois aquele aprendizado além da parte material, a instrução para as batalhas da vida, ele recebia também uma energia emanada pelo velho mestre, que revigorava suas forças a ponto de lhe transformar quase em um novo homem.

 
Os ensinamentos além de verbais eram também absorvidos quase que por pensamento, tamanha era a parceria energética entre ambos seres.
Ao olhar pela janela, o guerreiro observara um lindo lago o qual a água turva distoava um pouco da beleza do lugar, porém como era tempo de inverno, o mesmo saberia que ao retorno da primavera a beleza do lugar retornaria, sendo que se em pleno frio do inverno o lugar já era lindo e energeticamente falando maravilhoso, imagina na primavera.
 
Após alguns dias, era hora do guerreiro ir em sua jornada colocar todo o seu aprendizado em ação, levando junto a ele além dos ensinamentos do querido mestre, também o presente daquela criança, na forma de 3 pregos, servindo de amuleto para a sua caminhada que se iniciaria a partir daquele momento.
A estrada, era árdua, sinuosa com vários perigos, inimigos a sua espreita, dificuldades infindáveis, mas era necessário caminhar, pois esse caminho lhe levaria até onde ele queria chegar, inconscientemente ele precisava chegar até o final daquela caminhada.

 
Tão logo começou a sua caminhada, os impedimentos começaram a aparecer.
Ladrões que o espreitavam, tentaram roubar seu amuleto, sua linda armadura e sua perfeita espada, mas não era ainda a hora para o combate, e lembrando de um dos ensinamentos do mestre, ele correu, se esgueirou em meio a mata, igual a uma lebre, e logo ficou protegido daquele ataque.

 
Continuando a sua jornada, logo apareceu um caminhante, que se identificou com o guerreiro, dizendo que o encontro era providencialmente divino, como só Deus poderia ter feito ocorrer aquele encontro, pois o caminhante tinha certeza que o guerreiro estava indo para o mesmo lugar que ele, e isso era perfeito.

 
A jornada recomeçou, com ambos lado a lado a caminhar, porém o caminhante aos poucos foi mostrando que o caminho que ele pretendia seguir, era menos afortunado que o do guerreiro, pois ambas intenções, diferentemente do que pensava o caminhante eram totalmente diferentes aos do guerreiro, e além disso, os passos que o caminhante dava eram muito lentos, e algumas vezes parecia que o mesmo voltava para trás, e os do guerreiro eram rápidos iguais aos da lebre com saltos, pulos e caminhadas, as vezes também lentos, porém firmes, quando cansava ou errava um passo, ele parava a caminhada, descansava mas logo continuava o seu rumo, sendo visualmente ali, aquela situação, vista a grosso modo, incompatível entre viajantes.


 
Logo a situação tomou uma forma que, o guerreiro se viu sozinho novamente, até encontrar 

 
uma montanha alta e de difícil subida, ele não sabia como faria para subir, pois a caminhada era longa e ele estava cansado, eu diria muito cansado e pesado, já quase desistindo da caminhada, mas ali, novamente veio em sua mente o exemplo da lebre, repassada pelo seu querido mestre, nas horas de dificuldade, devemos nos transformar em uma lebre, contornar rapidamente os obstáculos, ampliar em grande escala nossas possibilidades e sermos leves o suficiente para podermos quase flutuar.
O guerreiro, despiu-se de sua armadura, suas armas,os pregos que lhe serviam de amuleto, seus medos e aos pés daquele linda árvore, contemplou aquele morro, começou a pensar, a meditar e dormiu.

 
Dormiu por horas, pareciam dias, e quando ele acordou, algo inusitado aconteceu ali, como se fosse um passe de mágica, ele tinha se transformado em uma lebre, por incrível que pareça, ele literalmente tinha feito o que o sábio mestre tinha lhe ensinado.

 
Recordando do encontro dias atrás com o mestre, em dado momento, em que ele tinha sentido uma paz interior, ele tinha percebido que algo de divino tinha aquele lugar e o seu mestre, não duvidando que aquela transformação psicopompa tinha um dedo do mestre.

Sim, agora seria muito mais fácil subir aquela montanha, ele tinha a leveza, a agilidade, a força de uma lebre.
 
Ele juntou sua armadura, sua espada e os pregos, subiu correndo com toda a agilidade do mundo, desviando de pedras, galhos, quedas dágua, enfim, desviando de todos os obstáculos como se não existissem, sim, ele estava cansado, mas a visão do topo que estava chegando tão rápido, o fazia esquecer da dor, do cansaço e do mal estar que sentia, até porque ele acostumado a ser um guerreiro desde que nascera, agora era uma lebre.

 
Ao chegar ao topo da montanha, a vista era sensacional, fantástica, ali em cima, não tinha vestígio nenhum, de nenhum ser humano, parecia um local virgem, nunca visitado por nenhum ser humano.
 
Lá de cima, ele via a estrada onde ele tinha percorrido, avistava também o local onde tinha conhecido o viajante, os ladrões que o tinha atacado, e por incrível que pareça até o lago onde o mestre vivia, mas muito ao longe, pois a distância que tinha percorrido era muito longa.

 
Ali ele se sentia feliz, tranquilo, em paz, olhava todos os problemas que tinha passado e lhe serviam de experiência, ali o lugar era perfeito para se viver e ter um final de vida digno.
Tinha até um pequeno lago, para saciar a sua sede, era perfeito, quase o paraíso.
 

Mas agora, ele tinha um problema, ele tinha se transformado em uma lebre, e como faria?

 
Ele teve uma ideia, foi até o lago, para ver seu reflexo na água, e ver como ele tinha ficado “vestido” de lebre.
O susto foi grande, o que ele vira no espelho dágua ele não acreditou.

 
Era ele mesmo, muito estranho, será que ele tinha se transformado novamente em guerreiro após chegar ao topo da montanha?
Mas uma voz interior, lá dentro de sua mente lhe falava.
O espírito da lebre estava dentro de você a toda hora, era só você colocar para fora e se moldar a essa forma, usando o modo de vida dela, para seu auxilio, e era isso o que o mestre tinha lhe ensinado.
Foi perfeito, quando ele cansado da viajem quase desistindo da caminhada, absorveu o instinto e o modo de vida da lebre e venceu.

Agora ali, no topo da montanha ele poderia viver uma vida digna, descansar das batalhas da vida, enfim, viver.
Mas para que isso acontece-se ele teria que construir uma moradia, plantar para colher, enfim, montar a sua nova vida.
O que ele faria agora?
Como também em um passe de mágica, ele lembrou do amuleto que ganhara, os pregos, e assim, ele transformou aqueles pregos em novos e numerosos pregos para poder construir sua nova morada, sua nova vida, sua estabilidade tão procurada.
 

Com a somatória de experiências adquiridas, presentes ganhos, dificuldades passadas, impedimentos impostos por pessoas, tentativas de roubo de esperança, tudo serviu no final da história, de material para lutar, errar, aprender, superar, e finalmente vencer e viver a vida almejada.

FIM.

Por Emerson C Matos
imagens da web e arquivo do blog
Inspirado em um sonho (desdobramento) 
no dia 23 de junho de 2013, a noite.

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