Ciganos se queixam de tratamento diferente em vila de Copacabana

Para o músico Mio Vacite, ciganos são considerados bruxos ou feiticeiros por vizinhos de vila

As mulheres da família de Mio Vacite, de 72 anos, praticam quiromancia (leitura de mãos) e cartomancia em casa. Ciganos, moram há 40 anos num imóvel próprio que fica numa vila de Copacabana. Mesmo vivendo há tanto tempo no mesmo lugar, há vizinhos que não os cumprimentam.
- Talvez sermos esotéricos e místicos gere preconceito. As pessoas nos veem como bruxos, feiticeiros - acredita.
Ele afirma que não há confrontos, mas tudo que sai da normalidade “é culpa deles”.
- Se deixam o portão da garagem aberto, as pessoas batem na porta de quem? Dos ciganos. Tudo que foge ao cotidiano, as pessoas vêm cobrar aqui - relata Mio, que é músico e presidente da União Cigana do Brasil.
Há casos em que o preconceito pode não ser sutil. Seguidor do candomblé, o voduno Ângelo de Gu Towingbà, de 64 anos, mora, há três, na parte de baixo de uma casa duplex, comprada à vista de um dos herdeiros da propriedade. Segundo ele, o casal que mora no andar de cima - também herdeiro - começou a incomodá-lo, por causa da religião. Inicialmente, jogando lixo na casa. Depois, com agressões - na última, ele teria fraturado o úmero.
Ele afirma que faz sessões religiosas em casa, mas sem barulho: não há instrumentos musicais, e os cantos, quando acontecem, são poucos. Além disso, os encontros reuniriam até cinco pessoas por vez.
- Vou sair daqui, só estou procurando um lugar. Minha mãe me pediu isso de presente - afirma, desanimado.
O caso envolvendo os dois vizinhos está correndo no Juizado Especial Criminal. Procurada, a outra parte não quis se pronunciar.
Religião não entra em contratos
Há convenções que proíbem práticas religiosas dentro do condomínio, independentemente da religião.
- Como é um acordo entre as partes, pode haver essa disposição - explica Sérgio Simões, diretor jurídico da Associação Brasileira dos Advogados do Mercado Imobiliário (Abami).
Ele alerta, também, que a relação de locação não pode se confundir com a vida religiosa, que tem que ser respeitada.
- O locador não pode proibir o locatário de fazer nenhuma atividade, desde que não perturbe os vizinhos.
Antes de assinar o contrato, o proprietário não pode perguntar a religião do futuro inquilino, pois o questionamento é considerado discriminatório.
Em casos de conflito, o babalaô Ivanir dos Santos, interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), aposta na conversa:
- Acho que tem que se discutir os conflitos no condomínio. Tem que buscar uma forma pacífica de conviver.
Se, mesmo assim, não houver solução para o caso, quem está sendo vítima de preconceito religioso deve entrar no site www.eutenhofe.org.br ou se dirigir à Rua Sampaio Ferraz 29, no Rio Comprido, às quartas-feiras, entre 16h e 19h, para fazer uma reclamação à CCIR.

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