Cientistas mapeiam a atividade cerebral de médiuns
Pesquisadores examinaram o cérebro de médiuns brasileiros e descobriram que áreas ligadas à linguagem tiveram atividade abaixo do esperado, o que poderia mostrar um estado de falta de foco e de perda da autoconsciência
"O estudo contribui para o nosso entendimento da relação entre o cérebro e as experiências e práticas espirituais"
Andrew Newberg
Diretor de Pesquisa no Myrna Brind Center of Integrative Medicine da Universidade Thomas Jefferson
Diretor de Pesquisa no Myrna Brind Center of Integrative Medicine da Universidade Thomas Jefferson
Por que houve essa diferença na atividade cerebral de acordo com a experiência dos médiuns?
Eu acho que isso reflete como o cérebro pode ser treinado para uma tarefa particular — um efeito de treino. Por exemplo: quando uma pessoa começa a aprender a tocar piano, ou outro instrumento musical, ela precisa, a princípio, focar em aprender cada nota — presumivelmente ativando o cérebro. Mas, na medida em que ela se torna um expert, o cérebro fica mais eficiente e pode até diminuir sua atividade, uma vez que tocar torna-se uma coisa fácil, que pode ser feita sem pensar. Podemos estar vendo um fenômeno parecido, no qual os médiuns treinam seus cérebros para desempenhar uma atividade psicográfica.
O que a redução da atividade em certas partes do cérebro sugere?
Neste caso, o estudo sugere que áreas que normalmente funcionam quando estamos escrevendo ou realizando outras tarefas cognitivas, de certa forma, desligam quando a pessoa entra em estado de transe. Isso é consistente com a experiência (dos médiuns) segundo a qual eles não estão no comando da prática e do que estão escrevendo. Quando a atividade do lobo frontal diminui, a pessoa não sente que está realizando uma tarefa, e sim que essa tarefa está sendo feita para ela.
Qual a relação entre experiências espirituais e a atividade cerebral?
As experiências espirituais são muito diversificadas e incluem processos cognitivos, emocionais, de percepção e de comportamento. Dependendo do tipo de experiência, nós vemos diferentes maneiras no modo como o cérebro responde. Para a psicografia, o lobo frontal diminui sua atividade porque o transe faz com que eles sintam que não estão escrevendo.
Na opinião do senhor, qual a maior contribuição do estudo?
Eu acho que o estudo contribui para o nosso entendimento da relação entre o cérebro e as experiências e práticas espirituais. Também nos leva a pensar se os médiuns de fato estão conectados a um reino espiritual, ou se simplesmente estão usando seus cérebros para construir essas experiências. Esse estudo não nos dá uma resposta definitiva. Mas traz muita coisa para pensarmos.
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