Odair Kotowski/JM
O casamento é uma das tradições mais conhecidas do mundo cigano.
Esta festa chama a atenção por, geralmente, ser longa e faustosa, como a que aconteceu esta semana, no Parque da Fenamilho, em Santo Ângelo.
CONVIDADOS
O casamento dos primos ciganos, Reinaldo Miguel Ivanof, 18 anos, e Açucena Miguel, 17, durou seis dias.
Desde o último domingo (18) até esta sexta-feira (23), pelo menos 50 famílias ciganas, vindas de várias cidades do Rio Grande do Sul e de outros Estados brasileiros, inclusive do exterior, comemoraram a união do casal, regada com muita comida, bebida e música.
Os convidados ficaram acampados nas tradicionais barracas junto ao parque.
TRÊS BANDAS CONTRATADAS
Três bandas uruguaias foram contratadas para animar a festa que, diariamente, iniciava pela manhã e só terminava na madrugada.
COMO SÃO AS CERIMÔNIAS
As despesas da festa do casamento, incluindo sua organização e os vestidos de noiva, são de responsabilidade da família do noivo.
Os preparativos do banquete de casamento ocorrem na residência dos pais dos noivos, num esforço comunitário, com a participação dos parentes mais próximos do noivo - homens e mulheres envolvidos.
A comida e a decoração, por exemplo, são feitas por profissionais contratados.
Embora a festa tenha durado tantos dias, apenas três deles (quarta, quinta e sexta-feira) são considerados oficiais.
Segundo a mãe do noivo e organizadora da festa, Lara Miguel, no primeiro dia acontece a apresentação da noiva e do noivo, pelos pais, aos convidados.
No segundo dia, os convidados recebem os dotes (presentes), geralmente, em ouro ou em dinheiro, e vivem a cerimônia de casamento cigana e católica.
A cerimônia cigana acontece da seguinte maneira.
O pai do jovem pega-o em sua barraca e leva-o até o salão principal (no caso, o Auditório Iglenho Araújo Burtet), e acompanhado dos familiares, dá três voltas com ele na pista, ao som da música típica.
Depois, vão até a barraca da jovem, onde ela recebe a coroa de casamento, e o ritual se repete, porém, agora, com o padrinho do casal, conduzindo a corrente.
No final, os noivos vão até a barraca do marido e recebem os cumprimentos dos familiares e convidados.
No final do dia, foram até a Catedral Angelopolitana, onde receberam a bênção do padre Rosalvo Frey, numa cerimônia católica.
Já no terceiro dia, a festa termina.
Os noivos saem em lua-de-mel, para um local não informado.
SIGNIFICADO DO CASAMENTO
Lara diz que, com o passar dos anos, a tradição sofreu uma transformação, mesmo assim, prega-se que o casamento marca a entrada dos ciganos na idade adulta.
Até a cerimônia matrimonial, os noivos não podem ter qualquer tipo de contato mais íntimo. A sociedade cigana é patriarcal.
Ao se casar, o homem vira o responsável pelo sustento do lar.
A mulher passa a morar com a família do marido e deve cuidar dele, dos sogros, da casa e dos filhos.
A noiva deve ser virgem.
Tradicionalmente, sua pureza é comprovada em um dos rituais da longa festa de casamento, em que o lençol da noite de núpcias é exibido para os convidados.
ENTRE PRIMOS
O casamento entre primos continua sendo estimulado, também na tentativa de preservar o núcleo familiar.
“Não existe mais essa de que os noivos são escolhidos pelos pais.
Nós até dialogamos isso entre as famílias, mas questionamos os filhos se também é interesse deles.
Hoje, eles têm a autonomia de decidir e caso seja um desejo deles, eles são submetidos a exames de sangue para saber se há a compatibilidade para terem filhos, no futuro”, explica Lara Miguel.
Reinaldo é filho de Alberto Ivanof e Lara Miguel, e Açucena, filha de César Miguel e Zoraide Jorge.
Eles são a terceira geração que se une dentro da mesma família.
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