"Cavalo de Santo" é lançado em Rio Grande

foto:Deyver Dias

Mãe Graça d´Oxum e a autora Mirian Fichtner



"Não importa cor ou religião, somos todos irmãos". Foi com esses versos que o Coral Municipal abriu a cerimônia de lançamento do livro "Cavalo de Santo - Religiões afro-gaúchas", na noite de sexta-feira, 29, no Sobrado dos Azulejos.
De autoria da jornalista porto-alegrense Mirian Fichtner, a obra fotográfica é resultado de uma pesquisa de mais de quatro anos, baseada nos dados do Censo de 2000, desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontava que o Rio Grande do Sul é o Estado que reúne, proporcionalmente, o maior número de adeptos declarados, bem como terreiras, de religiões africanas no Brasil.
"Isso foi o que motivou o meu trabalho, a mergulhar e me envolver de forma diferente das rotinas comuns do Jornalismo. Hoje, posso dizer que sou cúmplice, me tornei simpatizante total da religião, com fascínio especial pela estética e pela cultura das manifestações", disse a jornalista.
Durante a execução do trabalho, Mirian contou com o apoio do produtor cultural e jornalista Carlos Caramez e do antropólogo Ari Pedro Oro, um dos maiores especialistas em religiões do País. Entre 2006 e 2010, Mirian pesquisou cem terreiros, visitou mais de 30 casas e escolheu 13 para documentar, produzindo mais de 10.000 fotos. Destas, 153 foram selecionadas para integrar o livro, que foi impresso no formato 28cmX28cm, com 168 páginas e textos bilíngues (português-inglês).
"É também uma forma de homenagear a ancestralidade. Aqui em Rio Grande, eu pude realmente sentir o poder da espiritualidade, da natureza, dos orixás. Pessoalmente, eu pude desenvolver a fé e ver o quanto a crença faz a diferença em nossa vida", completou a autora.
Através das fotos, é possível perceber a dimensão social e humana das práticas populares no Estado, destacando rituais e festas, além dos personagens e das diferentes manifestações da fé: o batuque, a umbanda e a linha cruzada. "Cavalo de Santo" traduz, em imagens, a união do belo com o sagrado, estabelecendo-se como documento que contribui para a divulgação, o resgate e a preservação dessa cultura.
A solenidade contou com a presença de autoridades civis e militares, além de convidados e membros da religião afro. Para Luiz Henrique Drevnovicz, supervisor cultural da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, o livro passa a integrar o patrimônio cultural, como um dado de religiosidade. "É uma expressão da nossa cultura, e popular por excelência. Independente de qualquer crença, precisamos aceitar essa essência, tão representativa na nossa região", disse.

Mãe Graça d´Oxum Taladê

Rio Grande foi escolhido como único município, além das capitais, para receber o lançamento de "Cavalo de Santo". E isso não foi por acaso. Uma das personalidades religiosas destacadas pelas fotografias de Mirian Fichtner é a Mãe Graça d´Oxum Taladê, rio-grandina, com 53 anos de religião e 60 de idade. Mãe Graça é um ícone da luta contra a intolerância religiosa no Brasil e, assim, reconhecida nacionalmente por sua força espiritual.
"Foi uma experiência única, por tudo que a religião afro representa. Esta solenidade é um marco, que aproxima a comunidade da nossa manifestação religiosa, mostrando como a religião é bonita e muito limpa, e não o que muitas pessoas falam por aí. É preciso lembrar que todos nós acreditamos em Deus e que Ele deve ser o 1º Ser da nossa vida", disse Mãe Graça.

Exposição

Junto ao lançamento do livro, foi inaugurada a exposição com 18 fotografias de Mirian Fichtner, que estará aberta à visitação no Sobrado dos Azulejos, até o dia 20 de maio.
Por Anelize Kosinski


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