Japonês radicado no Brasil divulga o Budismo Nitiren

Iluminação: Goro Ito divulga o Budismo Nitiren há quase 40 anos na região, que possui quase 400 adeptos

Quando se fala em budismo, o corriqueiro é ligar a religião ao nome de Siddhartha Gautama (o Buda) e do Dalai Lama, Prêmio Nobel da Paz e símbolo maior da campanha de libertação do Tibete do controle chinês. A milenar religião oriental, porém, possui diversas ramificações, sendo uma delas encontrada na região Sul Fluminense: é o Budismo Nitiren Daishonin, ligado ao Mahayana ("O Grande Veículo"), difundido a partir de 1974 pelo intérprete aposentado Goro Ito, de 70 anos, que nasceu em Niigata, no Japão, em plena Segunda Guerra Mundial.
Desde 1959 no país, o japonês naturalizado brasileiro tinha formação budista por parte dos pais, mas só se considera convertido a partir de 1964, por intermédio de um amigo que o convidou para uma reunião na cidade mineira de Ipatinga. Ao mudar-se para Volta Redonda, Ito continuou a missão de divulgação da religião não-teísta (que não adora a uma divindade específica).
E uma das novas convertidas foi Romilda Rocha, de 50 anos, que veio conhecer o budismo aos 22 anos de idade através de uma amiga e que ajuda a levar a religião a quem demonstrar interesse.
- Nossa religião é divulgada de pessoa a pessoa, onde convidamos as pessoas interessadas a participar de nossas reuniões semanais, realizadas todas as segundas-feiras às 18 horas. Como não temos um templo na cidade, as reuniões são feitas nas casas dos próprios membros - explicou Romilda, acrescentando que a sede do Nitiren Daishonin no Brasil fica em São Paulo.
Atualmente são 91 famílias dedicadas à religião em Volta Redonda, com membros atuantes também em Itatiaia, Resende, Barra Mansa, Barra do Piraí, Valença, Vassouras e Piraí, totalizando cerca de 390 participantes do ramo criado por Nitiren Daishonin, no Japão, no Século XIII.
Causa e efeito
Segundo Ito, o Budismo Nitiren é ligado ao Mahayana, que foi pregado por Buda nos seus últimos oito anos de pregação e que seria o "ensino elevado", onde todos teriam a possibilidade da iluminação. Algumas das diferenças entre o Mihayana e o Hinayana (divulgado por Buda nos 42 anos iniciais de pregação e mais ligado ao Budismo Tibetano) é que o segundo seria apenas para os homens, reclusos nos templos. Os adeptos do Mahayana levam uma vida normal como os membros das demais religiões.
- O Budismo é a ciência da vida, onde cada ser humano é um microcosmo que faz parte do macrocosmo que é o universo. Para manifestarmos o estudo de Buda (a iluminação). Para manifestar o estudo de Buda (iluminação), existe um mantra para alcançar essa condição, o Nan-Myoho-Rengue-Kyo - destacou Goro, lembrando que a oração é realizada duas vezes ao dia.
O aposentado explica, também, a filosofia de vida da religião:
- Existe entre nós o ensinamento da lei de causa e efeito: se você fizer algo positivo isso terá um efeito positivo na sua vida. Por isso buscamos causas positivas, tratar bem as pessoas, não praticar atos negativos. Buscamos seguir a disciplina, pois a cada momento formamos nosso carma (destino) através de palavras, pensamentos e ações - esclareceu.
Sete séculos de ensinamentos
O Budismo Nitiren surgiu no Japão no Século XIII através de Zen Nitimaro, que começou a estudar os ensinamentos do Buda Sakyamuni (Siddhartha) para tentar entender o motivo de tanto sofrimento. Ao encontrar o Sutra de Lótus, ele entendeu que era o Buda desde o remoto passado e começou divulgar o Nan-Myoho-Rengue Kyo, adotando então o nome de Nitiren Daishonin. Ao ser perseguido pelas autoridades da época sob influência dos budistas antigos, revelou-se como o Buda Original ao conseguir se salvar da decapitação a que fora condenado.
Esse ramo religioso, entretanto, passou quase 700 anos sem ser propagado; a situação mudou apenas em 1930, quando o professor Tsunessaburo Makiguti se interessou pela filosofia de Nitiren. Ele convidou alguns professores, então, para praticar a religião, entre eles Jossei Toda. Daí surgiu a Fundação Soka Kyoiku Gakkai (Sociedade Educacional de Criação de Valores).
Com a entrada do Japão na Segunda Guerra, o governo imperial japonês, quis unificar todas as religiões do país no Xintoísmo, o que acabou ocasionando a prisão de Makiguti e Toda. O primeiro acabou falecendo na prisão, enquanto o segundo acabou libertado ao final da guerra, em 1945, e sentiu que era hora de proporcionar o ensino de acordo com a profecia de Sakyamuni ("Quem desprezar a Lei Mística será invadido pelo inimigo", o que acabou acontecendo com o Japão Imperial).
Segundo Ito, a prática budista consiste de duas partes: fazer o Nan-Myoho-Rengue-Kyo todos os dias e ensinar o mesmo para outras pessoas. O Chakubuku (ato de ensinar o mantra) surge da própria vontade de ensinar do membro da religião.
- Como temos poucos participantes e um orçamento limitado, o templo passa a ser um objetivo para o futuro. Até lá, nos reunimos geralmente nas casas de quatro dos nossos membros. A falta de um local próprio não faz tanta falta, já que a reunião nas casas já uma tradição nossa em todo o mundo - declarou Romilda. Ela acrescenta que o Nitiren possui cerca de dez mil famílias participantes no estado do Rio e que as crianças também participam das reuniões.

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