Hierofante estreia montagem de rua para a tragédia As Bacantes

Na versão do Hierofante, Penteu representa o governo do
Na versão do Hierofante, Penteu representa o governo do "jeitinho brasileiro".




Música e dança 
As referências tupiniquins e africanas surgem na música e na dança, outro ponto marcante da montagem. No momento em que os personagens se apresentam, Dionísio diz a que veio, oferecendo uma miscelânea de referências que misturam Zé Pilintra, Rei Momo, Ogum e Oxumaré. O carnaval, a capoeira e, especialmente, o hip-hop, surgem com força, orquestrados pela experiência de Alan Jhone, ou Bboy Papel, ídolo internacional da dança break. A cena de decapitação de Penteu ocorre ao som de up rock, versão mais vigorosa do hip-hop. 

Para dar vida a entidades históricas tão densas, os atores enfrentaram preparações físicas do Bboy Papel, leituras do texto, sessões de preparação de voz, além de aulas de instrumentos como zabumba, ganzá e pandeiro. Nesse período, o grupo realizou uma oficina de iniciação teatral e, de uma turma de 38 alunos, selecionou as estreantes Jéssica Cardoso e Nael Talita para interpretarem as moçoilas que dão nome à peça. 

E por que uma estreia tão boêmia, invadindo a madrugada? Pura estratégia do grupo para não excluir nenhuma fatia do público-alvo. "Estrear num teatro convencional não nos permite mobilizar os bêbados e usuários de crack que circulam pelas ruas na madrugada. Quando ensaiamos nas ruas, eles se emocionam e pedem ajuda. Então, quem tem carro ou mora perto pode vir aqui. E resolvemos fazer a essa hora para chegar às pessoas que nunca assistiriam à peça", esclarece o diretor. 

Muitos em um 

Zé Pilintra é uma entidade da cultura afro-brasileira, surgida na umbanda e no catimbó. Dono do carnaval, Rei Momo, na verdade, também se origina na mitologia grega, com sua personalidade zombeteira e sarcástica. Ogum e Oxumaré são orixás do candomblé. O ator André Reis, que encarna todos eles, admite ter vencido o desconhecimento e uma certa dose de preconceito contra o candomblé e a umbanda à base de muita leitura. Já o universo das danças de ruas era antigo conhecido: há três anos, ele fez um curso de break dance. 

Bacantes e Brincantes 

Espetáculo da Hierofante Companhia de Teatro. Estreia na noite de amanhã para sábado, à 0h, em frente ao Restaurante Comunitário de Ceilândia, em Ceilândia Centro. Nos dias 23, 24, 29, 30 e 31 de outubro, sessões às 15h, em frente ao posto policial de Ceilândia Centro. Nos dias 23, 24, 30 e 31, sessões às 17h, no Teatro de Arena atrás das Casas Bahia, também no centro da cidade. Entrada franca. Classificação indicativa livre. 

CONHEÇA A HISTÓRIA 

» As Bacantes é uma tragédia grega escrita pelo dramaturgo ateniense Eurípedes há mais de 2 mil anos. Apresentada em um festival de teatro da época, a peça ganhou o primeiro lugar e, até hoje, é um dos textos mais celebrados, e reencenados, por entusiastas do teatro no mundo inteiro. A história gira em torno de Dionísio, ou Baco, na mitologia romana, filho de Zeus, o deus dos deuses, com uma mortal. Por causa de sua linhagem “impura”, ele não é considerado um deus por muitos de seus contemporâneos e decide se vingar da humanidade. Reuniu um grupo de seguidoras, as bacantes, que o acompanhava em suas aventuras regadas a vinho e sexo, os chamados bacanais. O comportamento desregrado das mulheres causou pânico na comunidade e o rei de Tebas, Penteu, mandou prender Dionísio. Curioso para conhecer o comportamento dessas mulheres, o nobre é influenciado pelo prisioneiro a se vestir de bacante, para poder espiá-las de perto. Ele, no entanto, é desmascarado e morto pelas bacantes. Uma delas é sua mãe, que exibe sua cabeça orgulhosamente, como se tivesse abatido um leão.











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