UMBANDA GAÚCHA (ACHEI AQUI,CLIQUE) ILÊ OXUM DOCÔ








Na umbanda de bombachas, Oferenda é Costela.
(notícia de 19/5/2002)

Em entrevista ao Jornal O Globo em 19/05/2002 Pedro de Oxum explica um pouco da Cultura Africana moldado pelos costumes gaúchos.

RIO E PORTO ALEGRE. O acarajé e a farofa cederam lugar ao churrasco como oferenda. As bombachas substituíram as túnicas.

Dados do Censo 2000 revelam que o Rio Grande do Sul é o estado que proporcionalmente concentra o maior número de adeptos da umbanda e do candomblé no país.

Lá, 1,63% da população declarou que cultua a religião dos orixás. Famosa por seus terreiros e mães-de-santo, a Bahia, surpreendentemente, está em nono lugar: apenas 0,09% dos baianos disse ser umbandista.

O Rio de Janeiro está em segundo lugar no ranking dos estados com mais adeptos do candomblé e da umbanda, com 1,32%. O estado perdeu o posto de líder para o Rio Grande do Sul na última década. De 1991 para 2000, houve uma queda de 1,97% para 1,32% no número de seguidores fluminenses. No mesmo período, o índice subiu de 1,23% para 1,63% no Rio Grande do Sul. Mas os católicos são maioria entre os gaúchos (73,74%), seguidos dos evangélicos (13,06%) e dos sem religião (4,4%). Os espíritas também superam os umbandistas naquele estado, com 2,14% de seguidores.

“Um fenômeno de causas desconhecidas”

Para os técnicos do IBGE, mais surpreendente que a desmistificação da Bahia como símbolo da religião afro-brasileira é o crescimento da presença do candomblé e da umbanda no Rio Grande do Sul. — É um fenômeno muito interessante e sobre o qual ainda não se conhecem as causas, já que não foi detectado por nenhum estudioso nem pela sociedade — afirma a pesquisadora do IBGE Nilza de Oliveira Martins, responsável pelos dados sobre religião do Censo.

O aumento no número de gaúchos umbandistas faz com que a Região Sul, de colonização européia, perca apenas para o Sudeste no ranking por região. Do total de umbandistas brasileiros, 57,4% estão no Sudeste e 30,4% no Sul. O Nordeste contribui com 8%.

O crescimento da umbanda no Rio Grande do Sul fez surgir um novo perfil de pai-de-santo, moldado pelos costumes gaúchos. Eles oferecem churrasco de costela aos orixás e usam bombachas brancas, como Pedro de Oxum Docô, de 41 anos, um dos mais populares no estado. Sua mulher, formada em pedagogia, é a mãe- de-santo Viviane de Iansã.

— As bombachas são pelo frio no inverno. Já o churrasco é o gosto do praticante que impõe mesmo — diz Pedro.

Filho de pais católicos, ex-coroinha e ex-freqüentador assíduo de missa aos domingos, Pedro trocou o catolicismo pela umbanda aos 22 anos. Acredita ter sido curado de uma doença depois de ser benzido por uma mãe-de-santo.

Segundo levantamento da seção gaúcha da Associação de Cultos Afro-brasileiros (Afrobras), existem cerca de 50 mil estabelecimentos voltados para a prática de religiões afro-brasileiras no estado.

Os grupos mais organizados no Rio Grande do Sul, como o Ilê Oxum Docô, usam até a internet para popularizar os cultos africanos. Pela internet, a casa de Docô presta consultas e joga búzios, além de oferecer cartas de tarô e outros serviços. Segundo o pai- de-santo, sua página na internet é visitada por nove mil internautas mensalmente. Ele diz ter 17 mil clientes cadastrados.

Na Bahia, uma das razões que podem explicar o número baixo de seguidores da umbanda e do candomblé, segundo os técnicos do IBGE, é o sincretismo religioso. No estado onde até Mãe Menininha do Gantois declarou ser católica, não é raro ver católicos freqüentando terreiros e vice-versa.

A ligeira queda (de 0,11% em 91 para 0,09% em 2000) na proporção de adeptos da religião africana na Bahia na última década, de 1991 para 2000, foi inexpressiva, diz Nilza:

— A religião africana na Bahia é muito tradicional, é passada de pai para filho, o que faz com que os números não variem muito nem para mais nem para menos.

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