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Puma seria autor de ataques a cães no limite entre Viamão e Porto Alegre
Dois animais foram mortos nos últimos dias na região
Itamar Melo | itamar.melo@zerohora.com.br

Passos na escuridão, um bufido rondando as paredes das casas madrugada adentro, animais domésticos em desespero. Pela manhã, um cão morto no quintal.

A repetição desse quadro colocou em sobressalto nos últimos dias moradores da Estrada da Branquinha, no interior de Viamão, na Grande Porto Alegre. A Brigada Militar e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) trabalham com a hipótese de que um puma possa estar rondando a área, cercada de mata.

Amedrontada, Angélica Fritz Montano, 50 anos, está se recolhendo todos os dias dentro de casa com seus cachorros antes das 17h. Quando sai para o pátio, na borda do mato, põe um capacete de motociclista, empunha um bastão de caminhada com ponta de aço e carrega um spray capaz de provocar ardência em animais. Ela perdeu três de seus 10 cachorros, dois deles de sexta para cá.

A primeira morte ocorreu há cerca de três meses. O pastor belga de Angélica saltou da mata com a carne rasgada. Enfiou-se debaixo da casa para morrer. Dias depois, sua carcaça apareceu no pátio. Pelo ferimento, a moradora achou que havia sido vítima de um golpe de facão.

Na noite de sexta-feira, foi a vez de um cão de 60 quilos. Angélica ouviu apenas ganidos. No dia seguinte, encontrou o animal com um talho junto à cabeça, morto ao lado da casa. Ao redor, a vegetação estava arrasada. Na noite de domingo, ao ouvir ruídos do lado de fora, a mulher abriu a porta. Um cão de 35 quilos saiu para a escuridão. Não voltou mais. Angélica empurrou a moto, acendeu o farol e viu o corpo a poucos passos da residência.

— Não ouvi um grunhido do cachorro. Acho até ele que me salvou a vida. Se fosse eu quem tivesse saído, poderia ter sido atacada. Toda noite estou escutando aqui um caminhar muito leve. E o barulho não é um rugido, é um bufar. O animal deve estar por aqui.

Os dois cães seguem mortos ao lado da casa. Angélica tem medo de ser atacada se tentar enterrá-los. Na propriedade vizinha, de dois hectares, Glória dos Santos, 38 anos, mantém os quatro filhos confinados dentro da residência. Ontem não mandou à escola a filha menor, de nove anos, com receio de ser atacada no caminho até o carro.

— Chego a tremer. Estou a ponto de explodir. Gosto de ficar com a casa toda aberta. Nunca antes tinha estado assim trancada. A gente não dorme há cinco dias. Eu tenho até medo de adormecer.

Na noite de terça-feira, a família ficou reunida até de madrugada na sala, ouvindo os ruídos no lado de fora. Jeanílson dos Santos, 42 anos, marido de Glória, conta que carcaças de cachorros têm aparecido há meses na propriedade. Ontem, era possível encontrar ossos espalhados pela sua propriedade. Ele acreditava que os cachorros estavam morrendo em brigas entre si. Até este fim de semana. O pavor que se repete todos os dias mudou sua opinião.

— Ontem à noite foi terrível. Ouvíamos um zurro. Nossos cachorros e o cavalo pareciam enlouquecidos.

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