
: Ave Maria do Peão | ||
Odilon Ramos | ||
Ao reponte do sol que descamba no dia se aprochega para o arremate pelos campos e nos matos da querência no revoar da bicharada voltando ao ninho é hora de recolhimento. No rancho que há no interior de mim mesmo eu, gaúcho de fé me arrincono e medito. Despindo o poncho da vaidade e do orgulho tiro o chapéu, apago o pito e me achego pra uma prosa com o patrão maior. Na sua presença meu sangue quente de farrapo se faz manso caudal entrego-lhe minha alma afoita de alcançar lonjuras e abrir cancha em busca do destino renuncio à minha xucra rebeldia me faço doce de volta e macio de tranco para dizer-lhe. Gracias patrão por tudo que me deste por esta querência Senhor que meus ancestrais regaram com seu sangue e que aprendi a amar desde piá. Pelos meus parceiros nessa ronda da vida sempre de prontidão para me amadrinharem na campereada mais custosa ou para matearem comigo na hora do sossego. Reparte com eles, patrão esta fé que me deste e este orgulho pela minha querência. Ajuda patrão a manter acessa esta chama concede sempre ao gaúcho a força no braço e o tino pra saber o que é correto. Dá-nos consciência para preservar a nossa cultura livre da invasão dos modismos conserva a essência e a beleza da nossa tradição. E agora, com licença patrão que vou aproveitar a olada para um dedo de prosa com Nossa Senhora. Ave Maria primeira prenda do céu contigo está o Senhor, na estância maior tu és bendita entre todas as prendas e bendito é o piá que trouxeste ao mundo, Jesus. Maria, mãe de Deus E mãe de todos nós roga pela querência e pelos gaudérios que aqui moram nesta hora e no instante da última cavalgada. Amém. |
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